Sorriso 130

Quando chegamos o Pereira já estava por ali.
Enquanto preparávamos o local sentei na beiradinha da porta da loja fechada.
Ele sentou-se a meu lado. Já ia me levantar pois o cheiro do vício do seu vício entrava pesado pelo meu nariz. Ele puxou o assunto.
- Vão filmar o hospital?

Apontou para o prédio velho e abandonado. Um esqueleto do que foi um dia uma salvação. Respondi que sim, contei um pouco sobre o que faríamos mas ele parecia apenas querer desabafar.
- Fechar este hospital foi um crime. É o coração da cidade. Tive meus cinco filhos ai...
Apontou para o local com cara de flashback. Ficou preso em seus pensamentos por um minuto e voltou com outra expressão mais fechada.
- Nenhum deles me procura hoje...
Muitas podem ser as histórias não é mesmo? Quem sou eu pra julgar o Pereira ou seus filhos.
- O senhor tem que sair da rua... – Falei uma coisa querendo dizer outra. Ele sorriu e entendeu de forma clara. Mostrou o canto da calçada onde dormia. Não parecia querer dó ou um trocado. Nem pediu. Queria apenas bater papo.
- Uma moça me prometeu, que vou ser caseiro da casa dela, lá em Magé... Tem um quartinho, água quente, vou ter café, almoço e janta.
Pereira agora fez uma cara de fast foward e praticamente sumiu dentro de seus pensamentos. Um sorriso feliz mesmo, que refletia o lugar doce pra onde ele foi. Bem longe da rua.