Devia
ter uns 20 anos quando trabalhei para meu Tio Antônio como office boy.
O cara, que hoje está lá em cima me dando uma força bacana, era uma figura
impar. Figuraça mesmo.
A exigência, por conta do nepotismo, era grande. Porém tinha um horário flexível,
conseguia estudar e cada ida ao banco era uma oportunidade de flanar pelo
centro, pelos sebos, catar um disco novo, as vezes ir Cine íris ver um filme e
um show...
E num voo destes, encontrei meu Tio justamente na barraquinha do Oliveira e seu
manjar dos deuses. Sempre via a muvuca de boys por ali, se fartando, mas nunca
tive a coragem de enfrentar o cachorrão. Afinal, aquele era o primeiro cachorro
quente transado do Rio de Janeiro e era dos que queriam um almoço que
equilibrasse gostosura, fartura e peso, muito peso. Seu Antônio me deu a força
que eu precisava para experimentar.
Enquanto comíamos, conversamos muito com o Oliveira, que contou causos, da sua
outra barraquinha na tijuca, onde tudo começou, e como perdeu os dedos num
tampo de bueiro de energia elétrica enquanto fazia um “gato”.
Outro dia, quando o vi pessoalmente, de dentro do meu carro, ali na barraquinha
em frente ao falecido Balroon, tive que parar e colocar o papo em dia. Tudo
pretexto.
- Tem meses que não venho aqui. Mas o
garoto que coloquei por aqui...
Oliveira não quis entrar em detalhes. Eu namorava as frituras. Pensei então que
muita gente conhece o cachorro quente do cara, mas poucas pessoas a cara por
trás do cachorro quente.
- Linguiça ou salsicha?
- Linguiça.
-Quer que eu prepare?
Fiz que sim com a cabeça e vi Oliveira em ação. Sem exageros, apenas um novo
molho a base de mostarda escura e um pouco do outro de ervas finas. Queijo
parmesão e batata palha.
- Para dar a “crocrância”!
Enquanto eu devorava aquela delicia e viajava no tempo, Oliveira me observava com
aquele sorriso orgulhoso de quem já alimentou muita gente naquele oásis calórico no coração da zona sul.
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