Sorriso 126

Ele estava ali sentadinho, na dele, vestindo um manto rubro-negro desbotado. 
Numa das mãos um bolo de santinhos de um vereador e na outra uma tesourinha sem ponta.  Pacientemente ele arrancava a cabeça do pobre candidato em cada um dos panfletinhos. 
Não parecia ser algo pessoal, apenas uma distração naquela sombra fresca. O sol de maçarico castigava o todo mundo. 
Nem todos os equipamentos e a movimentação da equipe fizeram com que ele nos desse atenção. 
Dos doces que tínhamos comprado para o filho da entrevistada peguei um pirulito. Um pequeno pé azul enfiado num palito. Dei pra ele o suborno.
- Qual seu nome?
- Brxsunssxxo... – O pirulito não ajudou. 
- Como?
Era muita coisa ali para administrar. A tesoura, as cabeças do vereador,o pirulito, a sombra fresca, o nada a fazer... De forma desengonçada ele sacou o confeito da boca e disse decidido.
- Bru-no!
Pedi o sorriso e ele deu. Maroto, esperto e feliz. Sem a menor dificuldade. 
Afinal, muitas vezes uma sombra, uma tesourinha, um vereador de cabeça arrancada e um pirulito azul é toda a felicidade que a gente precisa no mundo.