Isonilda
mostra orgulhosa a parede de azulejos.
- Daqui pra baixo eu que coloquei.
Sorri como se olhasse uma obra de arte. E no fundo é. Lindão, lisinho,
alinhadinho. Invejei a habilidade.
Ali no sol de rachar batíamos papo.
- O céu ficou vermelho aqui em cima. A gente pensou até que fosse disco voador.
Ela ri. A mãe completa.
- Teve uma vaca que voou em meio à ventania. As galinhas morriam batendo uma na
outra.
Olhei para mãe apertando os olhos, desconfiado. Ela sorriu marota.
- Tô dizendo... – Não, nem ela acreditava naquilo. Isonilda confirmou com
aquela seriedade da negação de quando a criança quebra o pote. E continuou
agora olhando o nada.
- Vi a parede da minha casa rachar e cair. Caiu tudo. De uma vez. Agarrei as
crianças e foi só o tempo de sair. Muita chuva e vento. Em segundos era só entulho...
Lama.
Os olhos marejaram na hora. Mas ela
sorriu orgulhosa e completou.
- Hoje levantei tudo de novo.
Um dia, em meio a sua depressão, ela conheceu a Carmem num chat pelo telefone.
Foi parar em Vitória na casa dela. Foi um amor de irmã a primeira vista. Agora,
sempre que podem, não se desgrudam. Um dia Carmem disse pra ela estudar “e
distrair a cabeça, que algo bom viria”.
- E veio.
Ela olha orgulhosa pra casa que ajudou a erguer depois do curso de pedreiro e
alvenaria. O passado de catadora de lixo no lixão de Jardim Gramacho parece
muito distante.
Na despedida o saco de doces pro filho e o galão de água filtrada deixados de
presente fizeram com que ela se derramasse em lágrimas. E mesmo em meio ao
choro ela sorria.
Na hora da foto ela fez pose ao lado de sua obra.
Foi quando roubei um abraço. Pra levar um pouco daquele astral e energia
comigo.
- E me aguarde. Vou ser em-fer-mei-ra. – Diz curtindo cada sílaba da futura
função.
Não tenho dúvida que a Isonilda, com este sorriso e a força que tem, vai ser o
que quiser.
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