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    Sorriso 170




    Eu tinha pensado nele tinha poucos dias. Na saída de um táxi em Copacabana.
    Nada especial em meio a um comentário depois do sorriso.
    No papo durante o trajeto surgiu algo sobre comprimidos para impotência, realmente não lembro o contexto, mas não era urgência ou necessidade, apenas um chiste ou causo.
    E sem a menor cerimonia ele se intrometeu:
    - Um tio meu tomou três "azuizinhos" de uma vez só...
    Fizemos silêncio e ele pilotando uma pausa dramática. Não aguentei. 
    - E... Tudo bem?
    Ele abriu o maior sorriso do mundo. 
    - Pô, claro que não. Morreu né
    E riu. Rimos juntos. Aproveitou a plateia e completou. 
    - Morreu feliz da vida né?
    Rimos mais. Na saída, após a pose profissional para foto se identificou. 
    - Hernandes Fro, primeiro ator negro com registro do Brasil!
    Nesse exato momento me lembrei de Zózimo Bulbul. Um dos meus atores principais num curta pretensioso que fiz tem alguns anos.
    Foi difícil achar Zózimo, pois o perfil era de um senhor, com mais de 65 anos com uma característica complicada para atores brasileiros: negro. 
    Nem eu imaginava a dificuldade que seria. 
    As opções eram poucas e sem agenda para nossos dias.
    Paulo Mauro diretor de fotografia que sugeriu o nome e fomos achá-lo em Santa Tereza. 
    Zózimo surgiu a porta da sua casa desconfiado, maroto, mas logo se revelou um ótimo sujeito.
    Acho que na época ele tinha uns 60 anos, mas aparentava menos. A maquiagem, o figurino e sua linguagem corporal fez com que ele ganhasse uns anos. Muitos anos.
    Caiu perfeito na pele do velho Getúlio, velho ranzinza, mal humorado mas no fundo de ótimo coração.  
    A cena do choro, a mais difícil do filme, fez com que uma equipe de 12 pessoas ficasse em silencio, tocada, preocupada com aquele velhinho que chorava do nada.
    Depois do "corta" ele apenas sorriu cativante olhando na minha direção e perguntou:
    - Ficou bom?
    Ainda hoje acho a melhor cena do filme.
    Ontem Zózimo Bulbul morreu. Assim como nesta crônica, de repente e sem menos se esperar.
    - Trabalhei com o Jece Valadão. - Me disse o Hernandes antes do meu desembarque de seu táxi. 
    Pensei em sua batalha, pouco espaço, reconhecimento nenhum e mesmo assim o orgulho de fazer parte deste mundo que tanto amo.
    - Trabalhei com o Zózimo Bulbul. - Penso agora enquanto escrevo.
    E outro dia mesmo lembrei-me dele. E do seu sorriso.

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