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    Sorriso 168



    Caroçar é uma arte. E não é para qualquer um.
    Eu mesmo aprendi com o tempo a ter todos os escudos prontos contra ofertas, contra simpatia em demasia ou promoções capengas.
    Como? Não sabe o que é caroçar?
    Bem, explico.
    Tive uma carreira meteórica no setor de vendas e um amigo que trabalhava vendendo roupas me explicou na época:
    - Tem que evitar é aquele cara que entra, mexe em tudo e não compra... Verdadeiro caroço!
    E lá estávamos nós executando esta tarefa de forma esplêndida.
    Não tínhamos a mínima intenção de comprar nada e paramos seguindo aquela máxima “olha que loja bonitinha”.
    - Vai uma provinha do queijo da serra...
    Passeamos, vimos os preços, flanamos pelo local.
    - Isso é salame?
    Claro que era, sabia-se que era, a forma, a cor, o cheiro indicava que sim. Mas foi apenas uma escada de texto para a resposta já esperada.
    - Quer uma provinha?
    Sim, queríamos. Estávamos ali para isso, para as provinhas.
    - Esse vinho é feito aqui?
    E a moça calmamente foi abrir uma garrafa. Não, não faça isso. Fez.
    Num mundo perfeito e mis cara de pau, levaríamos uma bisnaga e sairíamos com um sanduíche.
    - A loja fica aberta até que horas?
    A moça sorriu nos deu outra provinha de queijo enquanto nos informava os horários de funcionamento. Ela sabia que não voltaríamos. Mesmo a gente indo e vindo, escolhendo e desistindo, mexendo nas prateleiras, ela ali, tranquila, serena, atenciosa.
    Ela passava o dia naquele balcão e sabia identificar caroços como a gente. Fazia parte do seu dia, então porque não fazer com que este passasse mais macio assim: com muita simpatia.
    Bem, falando nisso e já que eu estava ali, porque não filar um sorriso?

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