Sorriso 156

Eu a vi de canto de olho paquerando a vitrine de doces. Depois retomou sua função abordando um e outro enquanto vinha em minha direção.
Me distraí dela por um momento enquanto decidia entre a fatia de doce de leite com brigadeiro ou a de nozes com baba de moça.
São momentos únicos em nossa vida que nos absorvem e nos levam para aquele mundo que só a saliva em abundancia explica.
Estava indo encontrar meus parceiros criativos e sabia que a pausa da torta cairia bem.
Guto já tinha me cantado a pedra sobre a tal da “teia de aranha” e Rafael não enjeita doces. Tudo bem que ele tem aquele problema com Pudim. Coisas da falta de maturidade.
- Moço compra um pano de prato?
Ela oferecia sem tirar o olho das tortas. Não. Não queria panos de prato. Sei que tenho um, talvez dois... Ok, não sei quantos tenho em casa, mas não queria mais nem menos.
- Não, obrigado.
- Então me paga uma torta?
Peraí, como assim “então”? Que linha de raciocínio era aquela que uma coisa puxaria a outra? No sorriso dela dava pra ver que viu em mim uma presa fácil. Dei mole em algum momento e ela sabia que ali, mesmo com a loja cheia, o meu “sim” seria o mais fácil.
- Escolhe... – me redimi.
- Essa! – Na verdade era um bolo. Com uma cobertura coloridíssima, reluzente mas, tenho quilos de expertise no assunto, com cara de seco, muito seco. Me intrometi. Sou desses.
- Ah não, tá com cara de bolo seco... Vai na de brigadeiro. Brigadeiro não tem erro.
Ela concordou. Surge uma irmã que ele me apresenta orgulhosa e depois confidencia.
- Pode deixar que a gente vai dividir a torta...
Opa, ela tinha acabado de me liberar da segunda fatia sorrindo. Boazinha né?
Depois explica para a irmã apontando a vitrine.
- Eu ia pedir aquela, mas tá com cara de bolo seco...
A menina aprende rápido. E continua.
- Moço, pede pra viagem? Aí, a gente pode continuar vendendo nossos paninhos...
Enquanto eu caminhei pra minha bicicleta ainda pude observar as duas se revezando nas colheradas na torta enquanto sumiam na confusão de Copacabana.
"Esse tal do Natal tem cada coisa", pensei.