O equilíbrio perfeito do pão com manteiga e o café com leite é uma arte.
E leva anos para se aprimorar. Sou um sommelier ou equivalente nesta técnica.
Lembro que desenvolvi este amor a dupla dupla (não é erro de digitação, afinal são duas duplas) quando tinha uns 9 ou 10 anos.
Eu voltava do Ana Frank (assim eu ponunciava) colégio onde cursava o primário ali na Pinheiro Machado até em casa da Conde de Baependi sozinho.
Sabia que não era sozinho, meu avô vinha o tempo todo me monitorando, a distância enquanto eu, e meus comparsas, tocávamos o terror pelas ruas de Laranjeiras.
Na descida da Carlos de Campos tinha um prédio com uma passagem secreta. A gente entrava numa portaria e saia em outra da Paisandu.
Fantástico.
Tinha um cachorro que a gente mexia nesta mesma rua. Uma vez ele se soltou e só parei de correr na Coelho Neto. Suado, apavorado, mochila torta nas costas porém seguro. O kichute garantia o impulso e velocidade. Cão nenhum me pegaria.
Na São Salvador cada moleque seguia seu rumo e eu esperava seu Olimpio aparecer.
Nunca tocamos no assunto de sempre nos encontrarmos por ali.
O pão saia naquela hora, quentinho, crocante e a padaria inundava todas as ruas com aquele aroma.
Ali me apaixonei pelo pão francês.
Ainda de uniforme sentávamos a mesa em casa e tomávamos o café pra aguentar até a janta.
Papeávamos. Ele contava histórias muitas não guardei de memória pois achava que aquilo seria para sempre.
Seu Olimpio se foi mas o gosto daquelas tardes ficou. E sempre que posso volto por lá.
Por isso Rose esta minha precisão em escolher o pão. Que bom que você sorriu quando pedi pra trocar.
Tem que ser o clarinho, mas pro redondo. Esse sim. E aquele outro. Só dois, já tá bom.
Tente entender, querida Rose, que se não for com este cuidado a viagem para aquele tempo, para aquela tarde, não vai ser tão saborosa.
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