Imagine um tumulto. Imaginou? Pois bem, multiplique muito.
Assim foi a “final” do Brasileiro que o Flamengo conquistou em 2009.
As aspas se justificam, pois era o último jogo de um formato sem graça e sem o charme que tecnocratas Europeus criaram e por aqui copiamos achando o máximo.
Críticas a parte, segue a peleja.
Foi um campeonato que acompanhei com certa má vontade, confesso.
Em seu primeiro turno fui a uns 6 ou 7 jogos e o time me irritava de tal forma, sim era algo pessoal, que acabei abandonando o plantel a própria sorte ainda nessa fase.
Mas amor é fogo e não perdia um jogo, vibrava escondido longe deles e sofria com as derrotas também. Fui sem que eles notassem a duas partidas no segundo turno e voltei para casa com vitórias. Num certo momento a coisa encaixou e a sexta conquista de títulos nacionais se desenhava.
Ver uma final depois de 17 anos era um canto da sereia. Afinal, as notícias de ingressos esgotados, falsificação, tumulto a vista pulavam em todos os cantos.
Ir ao Maracanã seria um verdadeiro programa de índio. Pois é.
- Tomtom (Rogério me chama assim tem mais de 10 anos) bora na final?
Era véspera do jogo, ingressos arrumados num preço razoável e com a promessa de “se não entrar não precisa pagar”. Proposta perfeita.
Chegamos umas 4 horas antes e a fila tinha já seu quilômetro. Ou mais.
A PM mais atrapalhava que ajudava e vimos a prova de que em situações extremas a galera do bem se organiza bacana.
Eu e Roger fizemos parte de um cordão humano que ao mesmo tempo que se organizava fila contra malandros protegia mulheres e crianças. Se eu não tivesse vivido também não acreditaria.
Horas, confusão e enfim, roletas. Ingresso, mão do bilheteiro, colocou na catraca e... Tão rápido quanto entrou foi recusado e cuspido pela máquina. O cara me devolveu o ingresso sem nem olhar pra mim. Tipo, próximo!
- Vamos ver na sua casa Tonton! – Rogério fraquejou.
Eu num rompante de cara de pau resmunguei para ele:
- Ainda temos vinte roletas para dizer não pra gente!
Pulamos duas e tentamos de novo. Só que desta vez a roleta ao engolir o bilhete balançou, estremeceu, gemeu e morreu. Ali, na nossa frente, com um ruído horrível. O cara me encarou:
- “Mermão” onde tu conseguiu essa parada?
Lembro que como um narrador de jóquei contei os dias e noites que passei na fila da bilheteria de baixo de chuva, sol, neve... Ele me olhava de canto de olho.
- Vou ter que chamar o Ferreira...
Não lembro se era Ferreira, mas era um nome desses, de quem resolve problema em roleta. E o Ferreira veio e com autoridade abriu o equipamento. Lá dentro dava pra ver o ingresso completamente destruído pela engrenagem.
- Amigo, teu ingresso não é falso... É muito falso!
Clima tenso, explicações, minha cara de triste eu e Roger falávamos muito, várias coisas, de tudo um pouco e o Ferreira olhava Monalisa.
Acho que lá no fundo ele viu, apesar dos restos da falsificação sepultados ali na roleta, que a grande verdade era a nossa vontade de ver aquele jogo, ganhar o título, gritar campeão. Só isso. O resto era aquele papelzinho ali, desmilinguido e torpe, acusando a gente de algo que não fizemos. E o Ferreira enquanto liberava a catraca disse uma frase de quem tem entendeu o sentimento:
- Ah, eu quero que se f...!
Entramos, e junto com a gente muitos, mas muitos rubro-negros que aproveitaram o momento de fraqueza do cara. Enquanto corríamos rampa acima ainda vi quando o Ferreira abriu os braços diante da multidão que passava porteira aberta ensandecida pedindo de coração:
- Peraí, não é assim não! Me conta uma história! Me conta uma história!
Veio o jogo, o título e esse sorriso hexacampeão do Rogério.
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