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    Sorriso 188



    Pensa num cara simpático. O Paulo é assim.
    Tem quase 10 anos ou mais, passei um aperto. Lei de Murphy exercida em seu grau máximo.
    Vistoria, marcada meses antes, horas de espera, fila, anda, para, vem o vistoriador com cara de “não queria ter este emprego” e me pede pra abrir o capô do meu golzinho branco, lindão, carro 1.0, porém guerreiro.
    Só que o guerreiro não quis abrir o capô.
    E tome a puxar alavanca, olhar, revirar, puxar de novo e... Nada.
    O vistoriador, pela primeira vez com um sorriso nos lábios, me diz a real:
    - Não tem como fazer a vistoria assim, não é cidadão?
    Mas me deu uma esperança.
    - Se o senhor consertar pode voltar em até duas horas...
    Foi como se aquele apresentador de programa de domingo gritasse na minha cabeça.
    - VA-LEN-DO!
    Rodei ali pelo Grajaú sem direção, parando, perguntando, assuntando.
    Foi quando vi o local do Paulo. Parei em busca de informação. Ele, educadamente, pediu um minuto e terminou de atender o cliente.
    Para minha surpresa virou pra mim e afirmou:
    - Nunca fiz isso não, mas podemos tentar.
    E não só tentou como conseguiu. E numa simpatia daquelas que da vontade de chamar pra jogar bola no final. Terminou e sorriu satisfeito para o capo aberto.
    - Quanto é? – Perguntei.
    - Nada não. Troca o óleo com a gente a próxima vez.
    E mandou um sorrisão bacana. E dava pra ver que não me obrigava a voltar.  Fez por ajudar, por ser útil, pra dar uma mão mesmo. E isso minha gente, pra mim, tem preço não.
    Vistoria feita, voltei lá assim que precisei. E depois várias vezes desde então. Mesmo mudando pra longe.
    Numa destas trocas de óleo entranhei a pintura nova.
    - Opa, deu uma reformada hein?
    Foi à única vez que vi Paulo mais sério. Um incêndio, no meio da noite, tinha levado a loja inteira. Não havia seguro e ele estava ali, naquele momento, começando do zero.
    Isso tem uns 3 anos, acho.
    Da última vez Paulo já tinha até um novo ajudante, camisas com nome da loja para todos e uma máquina de refrigerantes para os clientes. Tomei uma Coca de garrafa com gosto.
    - Minha riqueza são os amigos... – Ele ri feliz enquanto faz contas e nem me cobra o refrigerante. Um sorriso destes nem o pior incêndio faz ficar cinza. 

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