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    Sorriso 187



    Chovia a beça naquele mês de 1974.
    Arrisco a data, pois ali num momento de pura coragem e determinação me libertei das rodinhas.
    Era uma Caloi pequena, verde, herança do meu irmão que tinha acabado de ganhar uma Monark de gente grande, dobrável e vinho.
    Aquela Caloi era enorme para mim na época.
    E foi também um grande passo para quem antes tinha um pequeno velocípede azul claro. Mas não se engane pelo tamanho, pois era um possante enfezado com no qual eu descrevia velocidades nunca vistas.
    Eu era fã de Speed Racer, programa obrigatório nas tardes lá em casa, e com meu triciclo fazia praticamente tudo que o Match 5, carro do herói, fazia.
    Claro que saltar sobre obstáculos não era bem recebido pelos tacos do apartamento muito menos pela minha mãe. Tirando isso, tudo era sempre possível.
    E eu encarando a chuva e vendo todos os moleques já sem rodinhas indo e vindo. 
    Lembro que meu avô me ajudou a levantá-las e sai pedalando feito doido.
    Fui para um lado, pro outro, vai cair, não vai, volta, equilibra, respira, olha a poça, muita chuva e a cuuuuuuuuuuuuuuuuuuurva... Pronto, foi, como mágica. Estava eu flutuando, longe do chão.
    Inexplicavelmente contrariando a física, as leis da natureza e atravessando o ar sem cair.
    Acho que sensação igual só quando andei a primeira vez de avião anos depois.
    O mundo parecia leve e sem limites.
    O pátio, na verdade um pedaço da garagem que a gente usava como play, era enorme e a molecada ia e vinha desviando das pilastras e dos carros estacionados. E eu seguindo o fluxo.
    Mais um glóbulo naquelas veias.
    Agora, anos depois eu ali em frente aquelas, hoje, bikes lindas, retrôs, no mesmo tom e acabamento daquela minha Caloi verde.
    A vitrine me atraiu depois o papo simpático. Fiquei por ali um pouco namorando cada uma. O acabamento, as cores, os detalhes...
    Caras demais, pelo menos pra mim, mas renderam um bom sorriso.
    Não lembro qual foi o destino da minha pequena bicicleta verde. Mas sei que ela teve um fim.
    Afinal, quem sabe andar sem rodinhas também sabe voar um pouquinho. 

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