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    Sorriso 178



    Eu queria ter a animação da Antônia.
    Lá estava ela, de moça do OktoberFest, acordou cedo ou nem dormiu muito, muitos blocos, morta de fome porém quase pronta para continuar sua maratona. Só resolver este detalhe da alimentação e ela prometeu cair de novo na folia.
    E foi sentar-se na outra mesa com seu grupo alegre, ruidoso e sorridente.
    Tem alguns dias já que os sorrisos são de carnaval e talvez seja uma oportunidade de rever minhas diferenças com esta festa.
    A maior prova que eu tentei me enturmar com os que curtem um “evoé” foi em 1989 quando recebi um telefonema no mínimo inusitado.
    Não havia redes sociais ainda e as pessoas se ligavam por telefones fixos.
    - Cara, vamos desfilar na Beija-Flor?
    - Chico, acho que você ligou para o Marton errado... Eu sou aquele que não gosta de carnaval!
    - Mas aí que está! To chamando todo mundo que não gosta, você, Sidney, Airton...
    Na hora a ideia me pareceu fascinante. Cercado de iguais em uma celebração indecifrável para mim. Bom demais.
    Viajávamos empolgados para Nilópolis e a minha primeira surpresa foi ver uma bateria de Escola de Samba de perto, a metros, tipo o cara do bumbo exalando aquele cheiro bacana perto de mim.
    Sempre fui um cara Rock and Roll, porém quando começou o batuque acho que nunca tinha visto nada tão pesado. Mesmo no show do Iron Maiden anos antes.
    O enredo para mim era fascinante: Ratos e Urubus rasguem minha fantasia. Todos de mendigos.
    Nesse carnaval tive a oportunidade de conhecer de perto Joãosinho Trinta, que cuidava pessoalmente de cada detalhe. Minha ala era o “Luxo do lixo”. O povo da rua que tirou da sujeira sua fantasia. Lindo demais.
    Fomos para o galpão diversos dias, fizemos nossas fantasias segundo orientação de figurinistas e adereços com a ajuda de cenotécnicos. Eu lembro que fiz um pão francês e uma cenoura mordida. Restos do banquete.
    O samba era lindo e o defendemos com galhardia na Avenida e o foi um dos momentos marcantes da história do desfile de escola de samba do Rio de Janeiro.
    Acabou que Chico não desfilou, Airton ficou o tempo todo a direita da Avenida para aparecer na TV e o Sidney perdeu o meu pão francês no meio do desfile.
    No final do sambódromo exausto, eu com minha cenoura semi destruída, não acreditava no que tinha passado. As cores, emoções, sensações,  mulheres seminuas (opa!). Cantar e ser aplaudido, ser ovacionado por milhares, catarse... Se nunca desfilou o faça.
    Apesar de alguns convites, nunca desfilei de novo. Acho que poderia perder o encanto, sei lá.
    Um carnaval polêmico com certeza onde Joãsinho (com s mesmo) desafiou ser julgado.
    Como dar notas a carros que não tinham beleza, luxo, brilho... Um show bufão jamais visto.
    O primeiros carro alegórico, o do Cristo mendigo, foi censurado e saiu coberto.
    No final, perdemos por meio ponto numa das maiores injustiças de todos os tempos.
     
    - O samba tem muitas palavras em nagô... - Justificaria o beócio depois de tirar o meio ponto fatal. Com certeza um ser humano que nunca ouviu mais de um samba enredo.
    Hoje, muitos lembram do desfile da Beija Flor de 1989 e não da campeã daquele ano.
    - É gente, vou indo, vou pra casa dormir...
    - Ué Antônia, e os blocos?
    Ela sorri lindinha, pisca os olhos lentamente e assume o cansaço.
    Ainda a vi se afastando lentamente até sumir numa esquina de Botafogo.
    Acho que no fundo eu tenho a animação da Antônia.
    Só que cansei muito antes. 

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