Sorriso 173

Uma das maiores armadilhas que podem existir na vida é você cair no papo de qualquer equipe de produção.
Sei que produtoras e produtores amigos me amaldiçoam agora, me desejam um inferno gelado, mas é a pura verdade.
Armadilha como aquela final do Flamengo contra time pequeno, ou acampar no feriadão ou aquele amor que mora longe. Porém, ao contrário destas outras, esta no final, acaba valendo a pena. Mas é roubada.
Marilia aceitou. Alguém disse que era rapidinho, mole, tranquilo e ela acreditou e topou.
Nunca é rápido.
E lá estava à moça pacientemente movendo as letrinhas, montando e desmontando as frases, aguentando a encarnação e implicância de todos... E fazendo um dublê de mão perfeita, a única parte de seu talento que apareceria no comercial. E fizemos uma vez, e de novo, e de novo, e de novo...
- Pode contar pra todo mundo na sua rua que sua mão vai aparecer na TV...
Piadas. Ela sorria tranquila, sem perder o humor. Nem mesmo quando eu, na minha função de diretor e chato, pedi:
- Poxa, pode tirar o esmalte?
Ela foi, retirou e voltou com os dedos esticados na minha direção, feliz. Nem imaginava que seriam quase três horas gravando.
Eu mesmo já passei por isso quando meu amigo Glauco rodou seu curta. Fiz até um teste e aceitei de pronto. Coisa de parceiros.
Quando cheguei na locação que me toquei o que eu tinha feito.
Uma hora de espera, tomei esporro da moça do figurino, inveja dos outros atores por eu ter fala.
- Você tem DRT? – Um deles me perguntou me olhando de cima a baixo, invejoso. Mal sabem eles a força de um teste do sofá.
E foi take único! Ensaiou duas vezes, rodou, perfeito.
De Niro sentiria inveja da minha concisão e recurso dramático na cena.
- Só mais uma vez... – Menti. Rodamos mais umas oito ou nove.
E Marilia, a estrela, um pedaço dela na verdade, firme forte, sorrindo feliz.
O cinema faz cada coisa com a gente.



ps.: Para quem estiver curioso sobre a minha cena... http://www.youtube.com/watch?v=PL1oNpCHejA