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    Sorriso 136




    No dia que decidi usar brinco cheguei em casa e meu irmão, logo depois de ter largado o serviço militar, exibia orgulhoso uma bolinha dourada na orelha.
    Eu precisava recuperar terreno.
    Afinal, era metido a punk, só que sem turma, ouvia músicas que ninguém ouvia, tudo muito alto e experimental. Um brinco combinava comigo.
    Note bem que hoje parece fácil. Meu porteiro Sandro usa brinco.
    Uma pausa explicativa: nada contra porteiros, o Sandro ou o seu brinco. Mas em 1986 sujeito macho não usava brinco. Trabalhando em portaria então... Nem pensar.
    Hoje muita coisa mudou, vide exemplo. Digressiono.
    Colocar o brinco era tarefa complexa.
    Havia a timidez. Entrar numa farmácia e pedir “fura aê”? Putz, nem pensar.
    Outro elemento marcante era a dureza. Sim, eu era muito duro.
    Essa combinação de fatores fez com que eu apelasse aos amigos. Na verdade a minha amiga Valéria. Recrutei meu amigo Mickey e fomos lá para as bandas da Rua do Senado onde usávamos a abusávamos da casa dela como se fosse um clube.
    Foi quando surgiu o terceiro elemento do drama: o medo do furo.
    Convenci meu amigo Mickey, que nem queria colocar brinco, a ser o primeiro. E assim foi. Rápido, tranquilo, indolor.
    Tomei coragem e... Ouço os dois cochichando, enquanto olhavam em direção a minha orelha a palavra “sangue”. Valeria tremia com a agulha na mão.
    Gelo, água oxigenada, não, se não fecha, mais gelo, reza, pinga, mais algodão... Foram os quinze minutos mais longos da minha vida e ganhei meu furo.
    No dia seguinte lembro que fomos a praia para comemorar em Ipanema. Dois tchibuns depois o brinco havia sumido. Voltei com um enorme pingente da Patrícia, irmã da Valéria. Hoje seria um mico. Em 1986, um escândalo.
    Por isso ao entrar na Flor de Prata, ser atendido pela Juliana e comprar um novo par de argolinhas fiz esta viagem no tempo. Que sempre faço.
    São muitos anos com crianças me perguntando:  -Você é menina?
    São muitos anos de frases como: - Você usa brinquinho!
    São muitos anos de cliente olhando fixo para minha orelha.
    Nem a sacolinha rosa, que Juliana me ofereceu sorrindo em tom de pilha, poderia abalar a minha masculinidade. Ou meus brincos. 

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