Gravávamos em Bela Vista de Goiânia, la no centrao do pais, uma pequena cidade muito simpática, fazendo aquele alvoroço típico de equipe que ocupa o local como se estivesse em casa. Curiosos, desconfiados, olhavam nosso trabalho com a distancia de quem quer entender mas não quer aparecer. Normal.
Ele surgiu sossegado e o Lúcio, simpático como sempre, resolveu pagar uma rodada de sorvete para todos.
A equipe avançou e logo estávamos naquela pausa gostosa embaixo da sombra, chupando picolé e aguardando o acão.
Notei a camisa do Sao Paulo. Impliquei.
- Segundo melhor time do Brasil...
Ele sorriu de lado timido discordando levemente com a cabeca.
- Qual teu nome?
- Fabiano...
- Nao devia estar com a 9? Do Luiz Fabiano?
Ele sorriu mais uma vez com ar de pouco papo e respondeu de jeito franco.
- Era a que tinha.
- Gostaria de ir a Sao Paulo ver um jogo dele?
- Não.
Estranhei. Como assim? Criança, podendo curtir um ídolo, vibrar ali no meio da galera, ter idéias pra contar. Insisti por uma resposta mais completa e pedi um picolé de limão.
- Diz ae Fabiano... Não seria um sonho.
- Seria, mas como sei que não vou, prefiro não desejar.
O amargo do limão ficou na memória com aquele gosto do conformismo. Das impossibilidades que a vida apresenta e a gente aceita como doce. Sem ao menos querer provar outros sabores. O que dizer para Fabiano?
Aquele momento em que voce quer ter uma vara de condao, ter muito dinheiro, ser Silvio Santos ou saber as palavras exatas para dizer a um garoto sem sonhos. Do meu jeito eu tentei.
Aqui do quarto do hotel, vendo as paredes de concreto, o céu azul de doer, numa cidade maior do que parece, lembrei do menino vendendo sorvetes que queria estar aqui, vendo o cinza de Sao Paulo.
E do seu sorriso de aceitação de não poder ser mais do que tera que ser.
:'(
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