Sorriso 190
Ela flutuava.
Sim, por vezes acima do chão numa distância de uma gilete deitada.
Só podia. Leve demais, pluma ao quadrado, pairava sobre a fuligem dos ônibus.
No rosto um sorriso feliz de quem... Dança.
Definitivamente na maior Avenida do país ela é apenas mais uma, mais um traço, mais um ponto pulando.
O que me chamou atenção ainda longe foi a Primavera de Vivaldi. Faltam meses para a estação, mas a música me remete a... Comercial de sabonete.
Pois é. Quebrei um pouco a erudição do fato, mas foi o que me ocorreu no momento.
E era um comercial lindo, todo em tons de vermelho, meio surrealista, com mulheres bem trajadas, mascarás, panos, flores, tudo lindo e com muita câmera lenta.
Uma delas se destacava em meio à multidão por usar o sabonete cenas antes.
“Sabonete de Vinólia. Sensível diferença para mulheres especiais.” Ou algo assim dizia o locutor no final. Lembro que eu sempre repetia imitando a voz do locutor.
Talvez seja isso. Esse é o encontro que ainda aguardo na minha vida.
Esta música, uma câmera lenta esperta, uma mulher vindo em minha direção com o perfume do sabonete de Vinólia. É pedir muito?
Demorei muitas estações para descobrir e sair da minha ignorância infantil que a música não era do comercial e sim, alguns séculos mais antiga. E que também tinha mais de 30 segundos.
A moça girava, bailava, pulava, dançava feliz e sorria. Muito.
Tive certeza ali, diante daquela felicidade da bailarina, ali em meio ao barulho e fuligem daquela avenida ruidosa que um dia a primavera chega.
E continuo aqui, ao som de Vivaldi, esperando por ela.
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