Sorriso 174

Dia primeiro do novo ano e eu já estava de pé. Às vezes meu sono é assim e mesmo morto de cansado levanto, como se estivesse perdendo tempo ou algo de legal. Resolvi então explorar o entorno do hotel.
Na rua, mais gente do que o comum para aquele horário no primeiro dia do ano. A Avenida na véspera estivera lotada, música, roupas brancas, abraços, fogos, muita gente mesmo. Aquele povo não dormia?
E ainda acordavam assim? Correndo, suados... E números, medalhas, tênis e vestimentas especiais... Muita preparação para quem queria simplesmente dormir mais e apenas não conseguia. Me sentia um alien.
Ah, era a famosa corrida de ano novo daquela grande cidade.
Fui averiguar.
Naquela mesma Avenida do ano novo, passavam diante de mim atletas aguerridos, tipo gente que se preparou de fato, decididos, sarados, nos trinques. Ao mesmo tempo um homem-aranha, um Fred Flistone, um freira (sim, eu disse um), Bin Laden, uma enfermeira, todos correndo, misturados, em direção a chegada.
Sim, aquilo estava divertido.
Me misturei na muvuca e fiquei olhando o povo passando na curva.
Puxei assunto com ele que clicava tudo.
Ele me explicou que aquele trecho era o final de uma subida. Espécie de último obstáculo. Por isso a vibração dos corredores ao passarem por ali.
- Fotografo essa corrida tem 20 anos... E sempre me divirto!
Um sujeito passa e faz a festa com o público. Pede palmas, faz pose e solta à máxima apontando em direção da chegada:
- Agora, é pegar os Quenianos! – E sai correndo decidido.
Fazia pelo menos duas horas que os Quenianos já haviam cruzado a chegada.
Todos rimos. E mesmo com o resultado já definido, um mar de gente não parava de correr. Eu entendia totalmente aquilo. Já tive minha fase Forrest Gump.
Desilusão amorosa, praia de Copacabana e todo dia eram oito quilômetros. Todos os dias. E começou, assim como Forrest, do nada. Coração dolorido se cura com endorfina, aprendi ali. E corri, muito. Muito mesmo. Mas nunca a alcancei.
Mas a vida é feito disso... Correr atrás não é mesmo?
- Faz suas fotos pra onde?
- Eu tenho um grupo na USP que posto essas fotos... Eu gosto da alegria das pessoas, desta descontração. De ver elas assim felizes... Por isso, isso todo ano eu venho. Ai, coloco lá. E quem quiser vai lá e pega!
Ele fez uma pequena pausa como se estivesse refletindo sobre o que havia me dito. E completou orgulhoso.
- Eu Gosto de fotografar isso!
Sorriu para mim como se eu não fosse entender.
Mal sabe que sei exatamente do que ele esta falando.