Sorriso 137

Maria é muito amiga da minha madrinha, a Terezinha.

Outro dia, na festa de aniversário da dinda, as duas lembraram de festas de anos atrás quando as duas, ainda jovens, se conheceram. 

Adoravam os bailes do Flamengo na sede da praia do mesmo nome.
- Não era a sede do Morro da Viúva não, esta é outra.
Elas corrigem o afilhado metido a sabichão.  

Dançavam para valer até acabar o baile, bem de noite,

- Naquela época se você não soubesse dançar era um chá de cadeira... – Diz uma.
- Nem valia ir aos bailes. – Completa a outra.

Segundo alguns amigos elas chegavam antes da banda e só saiam depois da banda ir embora. Pegavam um ônibus até a Cinelândia. Ali desciam perto do Palácio Monroe e pegavam um lotação até a Inhaúma. 

Explicam pacientemente para este habitante de um Rio mais perigoso que era tudo muito calmo. Afinal, todo mundo saia dos bailes, no clube militar, do Brasil Dancing, Samba Dancing, da Associação dos Empregados do Comércio e muitos outros clubes que ferviam no centro daquele Rio de Janeiro.  

Tinha até motorista que já as conhecia e deixava as duas na porta de casa.  

Ary Barroso era diretor social do clube e agitava o baile com sua banda e trazendo artistas nacionais e internacionais. As duas se riem lembrando dos trejeitos de Cauby Peixoto,
- Mas era de uma elegância!
- Sempre impecável!
Elogiam.

- Ary Barroso, sentava no piano pra tocar pra gente. - Diz Maria.

- Toda vez que ouço aquela: "Foi num samba de gente bamba..." Eu lembro dele. – Completa Terezinha.

E recorda que Ari, quando era baile de Domingueira, não admitia que se tomasse cerveja sentado na mesa. E dava bronca.

- Boite se toma whisky! - Dizia o Ari segundo elas, que caem no riso mais uma vez.
As lembranças rolam doces, macias, envolventes. Vez por outra trocam olhares confidentes de amigas que se conhecem de muito, mas muito tempo. Tempos que mudam e sorrisos que devem ter feito muita gente dançar.